segunda-feira, 29 de junho de 2009

MEIO AMBIENTE/GRIPE SUÍNA


A segunda vingança suína?

Ainda é cedo para a humanidade tirar conclusões a respeito dos possíveis estragos que a pandemia da gripe suína poderá causar ao mundo, porém, o que mais tem de verídico e perceptível nesse momento é a incerteza das informações pertinentes ao tema. Em meio a tanto alarde, restrito ao mal físico que o vírus pode causar aos humanos e ao prejuízo econômico da indústria de carne suína (inclusive rebatizaram o vírus de influenza A H1N1), pouco tem se falado das primeiras vítimas dessa cruel e fatídica história, que são os próprios suínos.
Desde que foram domesticados há cerca de 9 mil anos, os porcos vivem neste momento, a face mais triste e cruel de sua história. Os modernos criadouros suínos formam um ambiente completamente artificial e insalubre, sem ventilação e fétido, onde os pobres bichos vivem enjaulados em pequenos recintos em que mal podem se mexer, pisando apenas num piso de cimento frio. Só vêem a luz solar no momento em que são levados de caminhão ao matadouro.
Todo esse martírio começa com a dolorosa inseminação artificial das fêmeas que, logo em seguida, permanecerão em minúsculas jaulas cercadas, com barras de ferro onde sequer podem se virar. Ali, aguardam sua gestação de quatro meses até serem conduzidas para a jaula de parir, onde, além de ficar em pé, conseguem apenas deitar para que suas tetas sejam alcançadas pelos filhotes. Estes, em menos de quatro semanas, serão tirados da mãe, que após receber doses maciças de hormônios, entrará no cio e será inseminada, passando novamente por todo ciclo de tortura. Completamente estressadas, mordem as barras de ferro que as cercam, além de ficarem com o focinho em carne viva de tanto esfregarem o chão de concreto à procura de terra e palha para construir o ninho que serviria para parir e proteger os filhotes – no mundo natural, as fêmeas chegam a percorrer 10 km em busca de um lugar seguro para construir o seu ninho. Somam-se a isso, as feridas e a contaminação provocadas pela insalubridade de um local em que são obrigadas a deitar em cima das próprias fezes e urinas.
O calvário das porcas transformadas em máquinas de produzir carne se estende aos filhotes, que após duas semanas, serão retirados do calor e da segurança materna. Este e outros traumas o acompanharão pelos seus curtos 150 dias de vida. Já nos primeiros dias após o nascimento, os porquinhos têm seus dentes cortados sem qualquer procedimento que alivie a dor dos nervos expostos. Mas antes disso, sem qualquer anestesia, terão também o corto do rabo e os machos os testículos arrancados. Nesses lugares não existe consideração e compaixão com a dor alheia, afinal, o que importa é o lucro com o bacon, a banha, a carne, a lingüiça e tudo mais que possa ser feito com um porco esquartejado.
Extremamente amedrontados, os porquinhos mutilados serão amontoados em pequenas jaulas imundas dentro de galpões com pouca ventilação, extremamente úmidos e sem nenhuma luz solar. Serão alimentados com ração que, além de hormônio, poderá ter em sua composição farelo de peixe. O que já é uma aberração, pois na natureza os suínos não comem peixes. Obrigados a conviver em meio a esse ambiente insalubre e hostil, cerca de 70% deles desenvolvem pneumonia e mais de 25% sofrem com parasitas tipo a sarna. E dê-lhe antibióticos e antivirais! Devido a essas condições imundas, aliadas à manipulação genética, é que os porcos acabam por contrair doenças e ao mesmo tempo desenvolver resistência contra elas. É o que pode ter acontecido com o vírus da gripe suína, suspeito de contes genes de várias espécies, entre eles o da gripe humana e aviária.
Na localidade de La Glória, no México, onde ocorreu a primeira manifestação da epidemia, a responsabilidade recai na criação de porcos das granjas Carroll, subsidiária da norte-americana Smithfield Foods, instalada ali em 1994 depois de ter sido expulsa da Carolina do Norte e da Virgínia por danos ambientais. A empresa cria e abate quase um milhão de animais por ano e é acusada de contaminar os recursos hídricos da região com as fezes e urinas dos animais, depositados em tanques a céu aberto.
No mundo natural e num ambiente saudável, os porcos são animais extremamente higiênicos, sensíveis e sociais. Têm uma inteligência igual ou superior a algumas raças de cachorros, atendem pelo nome e podem reconhecer entre 20 e 30 indivíduos diferentes. Então, a natureza é sábia e não é à toa que surgem nesse meio epidemias tipo a suína. E quem é o principal responsável por essa situação senão o consumidor? Quem sabe esta seja a segunda vingança contra seus algozes, já que a primeira decorre de inúmeras doenças desencadeadas pelo consumo de suínos sob a forma de gordura saturada.

Márcio Linck
Ativista da UPAN (União Protetora do Ambiente Natural) www.upan.org.br

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